quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Sobre as correntes

Um dia desses estava eu vindo para o trabalho e me deparei com uma cena um pouco incomum: um casal estava acorrentado. Sim, minha gente, eles estavam LITERALMENTE grudados por uma coleira um ao outro. E estavam felizes, pouco se importando com o que iriam pensar e julgar pessoas como eu, que nunca tinham visto nada parecido.

Pensando bem, quantas correntes carregamos diariamente por aí sem ninguém perceber? Eu, por exemplo, tenho várias. Uma das que mais pesa é a do passado. Meu Deus, como é difícil nos livrar do peso de uma decisão mal tomada. Como é doloroso sentir nosso coração pesado e angustiado sem saber direito no que estamos amarrados. Ela é invisível, mas está lá... intacta com o passar do tempo. Pior, ganhando mais força com cada nova decisão equivocada.

Têm correntes que nos aprisionam às coisas e às pessoas. Como dói nos livrar de um objeto que nos traz boas recordações. Deixar um verdadeiro amor partir então, uma tarefa herculana.

Não há fórmula mágica para curarmos nossos corações. Apenas saber que não podemos ser dependentes de nada e de ninguém, sacudir a poeira e seguir em frente. Se tivermos que arrumar a nossa bagunça, tanto externa quanto interna, não há problema de doarmos alguns objetos que não são mais úteis e que podem fazer diferença para outra pessoa, e sentimentos que estão lá no fundo, mas que, na verdade, não deveriam estar.

Há diferença entre dependência e necessidade. Alguém pode ser necessário devido à sua importância (tenho alguns casos assim na minha vida), momentânea ou não, mas nunca podemos tornar essa necessidade em uma dependência. Você já notou que só somos dependentes de coisas ruins? Cigarro, álcool, remédios, drogas ilícitas, compras compulsivas. Amores ruins enquadram-se aqui também.

Ter saudade não significa ser dependente, mas apenas há a constatação de que nossa vida se torna pior sem essa companhia: há uma necessidade. Muito diferente é achar que não poderemos viver sem. Muitíssimo diferente é nos submeter a humilhações para conseguir uma migalha qualquer em contrapartida: é dependência.  

No final, seria mais fácil se todas as nossas correntes fossem visíveis como aquela do casal. Seria apenas soltar a coleira e cada um seguiria para o seu lado, sem memórias, nem história. Nós, das amarras invisíveis, temos que aprender a difícil arte de praticar o desapego e deixar o passado no passado, afinal. Se alguém souber como faz isso, me avisa.

Izadora

Nenhum comentário:

Postar um comentário