Pois então...
Hoje eu vi na minha rua uma cena não muito comum. Um mendigo encontrou um abrigo debaixo das árvores na frente do meu prédio e lá se estabeleceu. Tive que sair cedo e ele estava lá às 6h. Saí às 15h para o trabalho e ele estava exatamente na mesma posição, só que dessa vez tinha companhia: dois carros da Brigada Militar.
Poderia falar sobre a imbecilidade da nossa segurança pública, que nos deixa sem proteção de um lado para deslocar duas viaturas para remover um mendigo que nem conseguia se mexer. Realmente, perigosíssimo.
Poderia falar sobre se essa mobilização ocorreria em uma zona não tão nobre de Porto Alegre e no que isso implica. Imaginem eu morando na Vila Cruzeiro e ligando para a BM: “Alô! Tem um mendigo na minha porta e exijo uma solução AGORA!”. Provavelmente a reação seria de risada do outro lado da linha. Mas não... era na Nilo Peçanha, então o assunto é sério porque há “interesses sociais” envolvidos.
Mas quero falar sobre outra coisa. Quero falar sobre egoísmo e culpa. Passei por essa pessoa de manhã e a minha reação foi apenas de pena. Mas pena não esquenta. Pena não diminui a dor. Pena, amigos, não acalenta. Mais tarde, vi um motoqueiro parar para conversar . Ele perdeu dois minutos do tempo dele para perguntar o que aquela “pessoa” estava sentindo. Com isso, definitivamente, ganhou pontos em outra área.
Porque não agimos mais como esse motoqueiro? Porque insistimos em passar pelos problemas alheios como se não tivéssemos absolutamente nada com isso? Até quando vamos pensar que nosso sentimento de pena é o suficiente?
Sim. Há nosso dedo no meio daquela cena triste. Enquanto não criarmos consciência de que o mundo vai MUITO, mas MUITO além do nosso umbigo teremos culpa e seremos responsáveis. Pode haver pessoas muito mais responsáveis do que nós, pois nem todos têm poder de atuação direta e opta pela omissão e corrupção, mas isso não serve como desculpa.
O que você faz REALMENTE para mudar o mundo? Eu respondo por mim: NADA de efetivo. E não é por falta de oportunidade... Assumo minha culpa disso e assumo minha culpa por não ter poder de reação. Tenho a faca e o queijo na mão para poder transformar a vida de muita gente e prefiro a omissão por medo. E você? Assume?
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