quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Sobre a posse


Ah, o ser humano. Então a pessoa está separada há três anos de alguém. Nesse meio tempo, os dois têm suas vidas como devem ser: SEPARADAS e totalmente resolvidas. E nesse meio tempo aparecem pessoas, como também deve ser, e tudo bem. Afinal... acabou. CERTO?

Pois bem. Não apareceu UMA pessoa na vida de um deles. Apareceu A pessoa. A pessoa que é espalhada pelos quatro cantos, em alto e bom som, como sendo a aquela que se quer viver o resto da vida. Se vai acontecer ou não, ninguém sabe. Mas é o que se quer.

Depois de muito tempo, não se pensa mais nos vários anos que passaram, mas nos muitos que virão. Planos são feitos, montam-se projetos, há novamente um motivo para construir. E lutar por isso. 

Então, aquele primeiro ser humano citado no começo sente-se ameaçado. Aquele com quem se dividiu a cama durante anos possivelmente está mais feliz com alguém que ele acabou de conhecer. Uma verdadeira afronta!

Espera-se um pouquinho, pode ser que não seja nada, afinal. Mas se vê que a coisa realmente é séria e ouve-se de todos os conhecidos em comum a confirmação que tanto dói: sim, ele(a) está apaixonado(a) e feliz, talvez como nunca esteve.

Então, o negócio começa a perturbar. É a nossa velha sensação de posse. De que tudo o que uma vez nos tocou é infinitamente nosso. E de algum modo tem que lembrar o outro de que um dia eles foram felizes, nem que seja mostrando sutilmente uma foto do cachorro que infelizmente nem existe mais na vida dos dois... há alguns anos. Nem que seja deixando recadinhos de “estou aqui e lembrei de ti.”

Ah, o ser humano... Quando deixaremos de ser egoístas? Quando deixaremos de lado essa loucura e vamos começar a aceitar que o outro tem sim o direito de reconstruir sua vida longe de nós? E infelizmente, confesso, para nós mulheres isso é mais difícil de ser assimilado do que pelos homens.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sobre culpa


Pois então... 

Hoje eu vi na minha rua uma cena não muito comum. Um mendigo encontrou um abrigo debaixo das árvores na frente do meu prédio e lá se estabeleceu. Tive que sair cedo e ele estava lá às 6h. Saí às 15h para o trabalho e ele estava exatamente na mesma posição, só que dessa vez tinha companhia: dois carros da Brigada Militar.

Poderia falar sobre a imbecilidade da nossa segurança pública, que nos deixa sem proteção de um lado para deslocar duas viaturas para remover um mendigo que nem conseguia se mexer. Realmente, perigosíssimo.

Poderia falar sobre se essa mobilização ocorreria em uma zona não tão nobre de Porto Alegre e no que isso implica. Imaginem eu morando na Vila Cruzeiro e ligando para a BM: “Alô! Tem um mendigo na minha porta e exijo uma solução AGORA!”. Provavelmente a reação seria de risada do outro lado da linha. Mas não... era na Nilo Peçanha, então o assunto é sério porque há “interesses sociais” envolvidos. 

Mas quero falar sobre outra coisa. Quero falar sobre egoísmo e culpa. Passei por essa pessoa de manhã e a minha reação foi apenas de pena. Mas pena não esquenta. Pena não diminui a dor. Pena, amigos, não acalenta. Mais tarde, vi um motoqueiro parar para conversar . Ele perdeu dois minutos do tempo dele para perguntar o que aquela “pessoa” estava sentindo. Com isso, definitivamente, ganhou pontos em outra área.
Porque não agimos mais como esse motoqueiro? Porque insistimos em passar pelos problemas alheios como se não tivéssemos absolutamente nada com isso? Até quando vamos pensar que nosso sentimento de pena é o suficiente? 

Sim. Há nosso dedo no meio daquela cena triste. Enquanto não criarmos consciência de que o mundo vai MUITO, mas MUITO além do nosso umbigo teremos culpa e seremos responsáveis. Pode haver pessoas muito mais responsáveis do que nós, pois nem todos têm poder de atuação direta e opta pela omissão e corrupção, mas isso não serve como desculpa. 

O que você faz REALMENTE para mudar o mundo? Eu respondo por mim: NADA de efetivo. E não é por falta de oportunidade...  Assumo minha culpa disso e assumo minha culpa por não ter poder de reação. Tenho a faca e o queijo na mão para poder transformar a vida de muita gente e prefiro a omissão por medo. E você?  Assume?